André Pellegrino, o intérprete do bad boy Marcos de "Malhação", da Globo, jamais foi fã de musculação. Quando mais novo, ele teve uma fratura no braço e foi aconselhado pelo ortopedista a praticar algum exercício. "Só que eu acho um saco ter de malhar. Aí fui procurar um outro exercício e acabei encontrando o boxe", conta.

No folhetim de Emanuel Jacobina, Marcos é o "braço direito" do vilão adolescente Lúcio, vivido pelo ator Gabriel Chadan. Desde o começo de sua aparição na novela jovem, o personagem já se envolveu com questões para lá de sérias como alcoolismo, tráfico de drogas e homofobia. "Mas são questões que apenas ficam no ar, não ficam declaradas, até por causa do horário.
Contudo, existe o flerte com a vilania. Pelo que recebo de texto nem acho que ele seja muito mau. É mais um cara meio babaca. Prefiro acreditar que ele é um inconsequente e que não pensa nos atos antes de fazer", atesta, com bom humor, enquanto coloca a atadura que protege o pulso, seguido da luva e por último, mas não menos importante, o protetor bucal.

Atento às instruções do professor de boxe Giovanni Diniz, André ensaia alguns golpes. Primeiro um direto, depois um cruzado e depois esquiva.
"A luta me ajudou a ter mais concentração e é onde exercito bem a respiração. Para quem é ator, a respiração funciona como o nosso ´músculo´ de apoio. Por exemplo, para a emoção, nós buscamos a respiração", empolga-se, enquanto sua a camisa para acompanhar o treino, que é bem apertado.
O boxe para André não é uma luta. Pelo contrário, o ator global encara a atividade como um jogo. "Não é uma briga. Aqui extravasamos o estresse. Nunca tive qualquer machucado sério", garante.

Se o ator se esforça em desviar a "fama de mau" do boxe, com o próprio personagem não poderia ser diferente. Recentemente, em "Malhação", Marcos descobriu que a mãe biológica de Theo, interpretado por Ronny Kriwat, era portadora do vírus da Aids. Com esta informação, ele contou para Lúcio, que não perdeu tempo e iniciou um movimento no colégio para que os alunos se afastassem do garoto. Era apenas um pretexto de vingança para Lúcio reaver a vaga de titular no time de futebol que havia ficado com Theo. "Normalmente, ele faz as coisas por maldade, mas desta vez não foi assim. Adolescente, de vez em quando, é um pouco cruel um com o outro e tem dificuldade de entender diferenças. Por isso acho que nessa situação foi tudo sem querer", defende ele, hoje com 25 anos.

Para André, não é fácil interpretar um personagem problemático como o Marcos. Uma das razões é ter de assumir posturas que na vida real ele não tomaria, ou não assumiria. "Em cena, preciso falar coisas que não falaria, e ainda dar verdade para isso", observa o ator, enquanto recupera o fôlego para continuar a sequência de golpes.

Segundo ele, essa mesma veracidade não tem muito mistério. Em tese, ele segue um pensamento ironicamente bem simples. "Na hora de trabalhar eu não penso ´ah, estou fazendo por maldade´. Faço como se fosse uma parte de mim. É mais difícil fazer um personagem assim porque não tem muita coisa em comum comigo. Ao mesmo tempo é muito mais interessante", acredita ele, que é fã dos lutadores Vitor Belfort, Anderson Silva e dos combates do "Ultimate Fighting Championship" (UFC) - torneio mundial de artes marciais.