Bastou entrar no estúdio de "Malhação" e gravar como Fabiano, novo professor de Cinema da trama, para Danton Mello voltar no tempo. Há 17 anos, o ator, hoje com 36, estreava como Héricles, o protagonista das duas primeiras temporadas da novela adolescente, uma aposta — e retumbante novidade à época — nos fins de tarde da Globo.— Fiz o primeiro capítulo e, de repente, estava entrando agora no 4.272. Claro que imediatamente lembrei dos meus 20 anos. A vida vai atropelando a gente e aproveitei a oportunidade para fazer um balanço — confessa.

De lá para cá, Danton vivenciou experiências marcantes: foi pai de duas meninas (Luisa, 10, e Alice, 8), sobreviveu a um acidente aéreo (em 1998, quando gravava para o programa "Globo ecologia", em Monte Roraima/RR), e desfez um casamento de quase 13 anos. Cabeludo e com visíveis fios brancos no topo da cabeça, ele garante:

— Não tenho medo de envelhecer. Olho no $e ainda vejo uma cara de moleque. Só preciso parar de fumar.

Mas, no momento da entrevista, Danton escolhe um banco ao ar livre, nos jardins do Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo, no Rio, para acender seu cigarro. No encontro com a Revista da TV, marcado sem intermédio de assessores, ele chega sozinho e de táxi, com uma mochila nas costas e uma bolsa de viagem nas mãos. O ator, que dali pegou a ponte aérea para São Paulo, onde cumpre temporada com a peça "Como se tornar uma supermãe em 10 lições", parece passar longe da afetação da profissão. Com jeito manso de falar, assume ter tido agora um claro sinal da passagem do tempo quando soube que seu personagem em "Malhação" seria pai de Isabela (Bella Camero), de 13 anos.

— Fiquei em choque quando me falaram, apesar de ter noção de que não estou longe disso. Já estou chegando aos 40 e minha filha mais velha vai fazer 11 — comenta.

As meninas são fruto da relação com a escritora e roteirista Laura Malin, de quem ele continua amigo.

— Estamos separados há tanto tempo (6 anos), que já passamos por aquela fase de nos estranhar. Danton participa de tudo na vida delas. Não tem dia certo para vê-las. O certo é a presença dele — afirma Laura.

A ex-mulher lembra que, quando conheceu o ator, seu apelido era Mister Simpatia, por Danton ser um cara extrovertido, que fala com todos. Na opinião dela, essas mesmas características só irão ajudá-lo na ainda futura função de pai de duas adolescentes.

— Começamos a viver um pouco essa fase. Este ano, as meninas foram ao primeiro show, da cantora Selena Gomez. Mas o Danton é jovem, baladeiro, adora ir para a boate e tem pique para segui-las — acredita a escritora.

Por enquanto, Danton prefere programas mais caseiros com as filhas — ele costuma preparar massas para a dupla. E abre mão de alguns passeios para não expor as duas às lentes dos paparazzi.

— Eu estou há muito tempo neste trabalho e não deixo de fazer nada, já me acostumei. Se estou na noite, não me importo quando fazem um registro. Mas com as minhas filhas evito $ao ar livre para elas não serem fotografadas. Elas devem ser preservadas — defende o ator.

Como pai, Danton é protetor.

— As meninas já foram chamadas para fazer trabalhos como atrizes, e ele não quis por achar que ser criança é mais importante — diz Laura.

Com o próprio ator, a história foi outra. Ele estreou na TV aos 5 anos, ao lado do irmão, Selton Mello, no programa de calouros de Dácio Campos, na Bandeirantes. Apesar de ter começado cedo, Danton enfatiza não ter pulado nenhuma fase, nem ter perdido sua infância. Mas admite ter tido uma vida atípica.

— Eu fui muito precoce, em tudo. E já tive meus questionamentos, como todo mundo. Sou tão novo e já trabalho há 31 anos. Às vezes, eu penso que não escolhi a minha profissão e acho que poderia ter sido um bom médico, arquiteto ou chef de cozinha — diz, para, em seguida, afirmar estar na carreira certa: — Olho para trás e vejo que nós demos certo. Falo no plural porque também incluo o meu irmão. Ele virou um ator de cinema. Já eu faço um pouco de cada coisa.

Dois anos e meio mais velho, Selton diz que, no trabalho, o vídeo é o ponto em comum entre eles:

— Nós sempre estamos fazendo alguma coisa na TV. Mas o Danton também é um grande ator de teatro e se dedicou bastante ao palco.

Selton conta que os dois são "superunidos" $criancinha. E que se telefonam para trocar ideias quando um deles aceita um novo papel.

— Todo mundo tem curiosidade de saber como funcionam dois irmãos atores. Nunca houve competição. Inclusive, não sei como a TV ainda não explorou isso: escalar nós dois para um mesmo trabalho. Eu acho um vacilo enorme. Como ninguém teve essa brilhante ideia? — brinca.

O primogênito dos irmãos Mello percebeu o quanto o público gosta de vê-los dividindo o mesmo set nas exibições de "O palhaço", segundo longa-metragem dirigido por ele.

— Danton fez uma participação afetiva no meu filme. Nas sessões em que estive, ouvia os comentários: "Olha lá, o irmão!" — aponta Selton.

Mesmo já tendo feito alguns longas, como "Benjamim" (2003), do qual foi protagonista, Danton agora quer tirar o atraso com a tela grande. Depois de "O palhaço", ele já rodou a comédia "Vai que dá certo", de Maurício Farias, ainda inédita no circuito.

— Eu já abri mão de alguns filmes por causa das novelas e do teatro. Quero fazer mais cinema, que é um trabalho artesanal. E já me cobrei isso — avisa o ator.

No que depender de Alexandre Reinecke, que dirige Danton nos palcos pela terceira vez, o ator não ficará longos períodos fora de cena.

— Quero sempre trabalhar com ele. Danton tem um entendimento grande de teatro. E virou $dos meus melhores amigos. É companheiro. Seja para uma cerveja ou para trocar confidências. Costumo dizer que se alguém não se der bem com o Danton ou com o Tato Gabus Mendes, não vai se dar bem com ninguém — elogia Reinecke.

A atriz Juliana Martins concorda. Ela é amiga do ator desde a infância, quando os dois estrearam em folhetins com "A gata comeu" (1985), da Globo. Dez anos depois, eles ainda formaram par na primeira temporada de "Malhação".

— Crescemos praticamente juntos e conheço a família dele toda. Éramos de outra época. A gente tinha que apresentar o boletim com boas notas na TV para fazer novela — recorda Juliana, que destaca o talento cômico do amigo, ainda pouco explorado no vídeo: — Eu o vi na peça "39 degraus" e ele estava superengraçado. As pessoas tinham que conhecer mais esse lado.

No ar há em "Malhação" desde o fim de fevereiro, Danton tem agora a chance de estar no centro de uma comédia romântica. Fabiano está na trama para se envolver com Laura (Letícia Spiller), com quem vive às turras. O atual personagem não tem nada a ver com os heróis Neco, de "Cabocla" (2004), ou Rodolfo Fontes, de "Sinhá Moça" (2006).

Para incorporar o atual personagem, que tem um lado desajeitado, o ator emprestou seus próprios óculos de grau, com armação branca.

— Demorei tanto para achar esse modelo e agora vou ter que trocar para ficar com uma cara diferente da que estou na TV — conta, satisfeito com o retorno ao programa adolescente: — "Malhação" é muita importante para a minha carreira e me orgulho de ter feito parte da sua criação. Fui bem recebido pela nova equipe e pelo elenco. Eles sabem que fui o primeiro protagonista, mas não viram a minha temporada. Não sou referência para esses atores jovens.

Apesar de se dizer sozinho há seis anos — desde a sua separação —, Danton afirma:

— Não estou celibatário. Aliás, estou muito feliz. Nem me considero solteiro porque solteiro é quem está à procura.

O ator também contabiliza não ter descanso do trabalho há três anos. Só em 2012 ele já deu as caras em três produções na TV. Além de "Malhação", ele esteve na minissérie "Dercy de verdade", em janeiro, e gravou dois episódios da série "As brasileiras" — um deles, "A selvagem de Santarém", foi ao ar recentemente. O outro, "A reacionária do Pantanal", está previsto para maio.

— Cresci na TV e adoro receber o roteiro para gravar. Isso me motiva — diz, demonstrando que as férias ainda estão distantes.