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O desafio da gravidez na adolescência

“Estou grávida!”. Se encarar essa realidade no mundo adulto pode ser bem difícil, imagine no universo adolescente. Geralmente, a notícia cai como uma bomba para a família e os amigos. Esse é o conflito que Júlia (Dandara de Morais) vive em Malhação. A personagem, estudante do segundo ano do Ensino Médio, descobre que está esperando um filho de seu namorado Fred (Bernardo Mesquita), mas não recebe o apoio dele. O pai da jovem, o professor Antônio (MV Bill), ainda não sabe mas…. Por ser um sujeito rigoroso, também não deverá ser muito receptivo com a ideia de ser avô.

Mat.-Gravidez1Como Júlia vai lidar com a situação? Por enquanto, só o autor Emanuel Jacobina sabe, mas o fato é que uma gravidez na adolescência traz uma série de riscos para a menina. Segundo a psiquiatra Carmita Abdo, professora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e fundadora e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, quanto mais jovem a menina for, menos preparado estará seu corpo, por ainda estar em desenvolvimento. “As alterações hormonais, próprias da gravidez, podem ser muito pronunciadas, repercutindo em ganho excessivo e peso, por exemplo. Este aumento ponderal pode levar a descompensações, elevando os níveis de colesterol, glicemia, entre outros, em jovens mais predispostas”, explica.

Além dos riscos físicos, o lado psicológico também é afetado. A gravidez geralmente desestabiliza a adolescente, principalmente quando o parceiro não corresponde às expectativas e/ou a família não oferece suporte emocional. “Ela pode deprimir, ter transtornos alimentares, alterações do sono e irritabilidade. Pode, inclusive, tentar o aborto, em condições precárias, e até tentar o suicídio”, afirma a psiquiatra.

Dados do Sistema Único de Saúde revelam essa tendência assustadora. De acordo com uma pesquisa de 2002, a primeira causa de internação no SUS de meninas entre 14 e 19 anos foi por ocasião de seus respectivos partos. Coincidentemente, a segunda causa de internação de meninas nessa mesma faixa etária foi tentativa de suicídio. “Com certeza, muitas dessas jovens que tentaram o suicídio o fizeram por não se sentirem capazes de vencer os diversos obstáculos que a vida lhes impunha. Muitas vezes esse obstáculo foi a gravidez desamparada pela família e pelo parceiro”, justifica Carmita.

Ser mãe x vida social

Mat.-Gravidez2Quando a gravidez surge antes da hora, a jovem se depara com um grande dilema: cuidar do bebê ou continuar a conhecer o mundo? Para o coordenador geral do Centro de Educação Sexual (Cedus), Roberto Pereira, as duas opções ficam comprometidas. “Por causa da maternidade precoce, ela interrompe o processo que o mundo exige e suas experiências em relação ao resto ficam ofuscadas. O foco muda. E o pior, muitas vezes a mãe da jovem entra em cena e começa a desempenhar o papel de mãe da criança. Mesmo com essa ajuda, a jovem se afasta da escola e do meio social em que vive. O pai adolescente também é muito ausente, pois, como a menina, ele não tem nenhuma condição financeira ou psicológica de encarar essa situação”.

Não é nada fácil encarar esse fato, mas na maioria dos casos, essas adolescentes têm extintas suas vidas sociais. Carmita Abdo diz que é muito comum a jovem abandonar os estudos precocemente e se excluir do mercado de trabalho, tornando-se dependente crônica do sustento familiar e/ou do namorado. “Se ela tinha algum projeto de vida, acaba por abandoná-lo e raramente o retoma. Além disso, é muito comum que, na sequência de dar à luz ao primeiro filho, essa adolescente volte a engravidar, e nem sempre é do mesmo parceiro”.

Se a adolescente não está preparada para ser mãe, quem sofre é o bebê. De acordo com a psiquiatra, a precariedade emocional da garota, aliada ao seu organismo ainda imaturo, não são as melhores condições para uma boa gestação, podendo resultar em parto prematuro e bebê de baixo peso.

Informação x aplicabilidade

Seria a falta de informação uma explicação para tantas meninas ainda ficarem grávidas nos dias atuais? Não. O maior problema é a informação que a pessoa digere. “É preciso mostrar que essa fase de impulsos da adolescência pode e deve ser controlada e esse ensinamento deve ser incorporado pela jovem de maneira natural. O problema é que esse assunto ainda é muito velado dentro de casa. Ainda vivemos uma época em que não se fala como se deveria sobre a gravidez precoce. Isso deveria existir desde os primórdios, mas sempre de maneira natural, para não haver medos e dúvidas não esclarecidas, seja de que meio for”, afirma Roberto Pereira.

Em pesquisa do ProSex, realizada com alunos do Ensino Médio de uma escola pública da cidade de São Paulo, descobriu-se que o nível de conhecimento sexual é alto. Sobre sexo seguro, 81,5% das questões abordadas foram respondidas de maneira correta. “Informação não falta, assim como conhecimento teórico. O que se observa é a não aplicabilidade desse esclarecimento à vida sexual”, enfatiza Carmita Abdo. Confira abaixo o quadro sobre a pesquisa, com os índices de conhecimento sobre vários aspectos da sexualidade:

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Em populações mais carentes

Os dois especialistas são categóricos: é notório que esse problema se instale em maior escala em comunidades carentes. “Quanto mais carente a adolescente, maior o risco de fazer da gravidez um instrumento com vistas a ‘mudar de vida’, ‘ter uma casa e uma família’,’ter alguém que lhe dará amor’ (filho), ‘ter um projeto em comum com alguém’, ‘sentir-se importante’. Menor é o acesso à pílula anticoncepcional e à proteção contra doenças sexualmente transmissíveis”, revela a psiquiatra. “O problema é cultural. Em lugares mais carentes, há esses ensinamentos populares, como ‘onde se come um, comem dois’. Isso agrava ainda mais todo esse cenário”, acrescenta Pereira.

Como prevenir?

O coordenador do Cedus diz que hoje, em muitas escolas, existem uma série de ações desenvolvidas em conjunto com a Secretaria de Educação em que essa questão da gravidez na adolescência é trabalhada. A ideia é fomentar todos para que eles comecem a discutir sobre o assunto e para que os profissionais tenham a capacidade de atender a essas discussões de forma bem mais ampla. “Se isso não acontecer, o jovem nunca vai ter uma vida sexual esclarecida como realmente deveria. A responsabilidade de cada família estar sendo orientada por qualquer uma dessas ações é importante, mas tudo tem que ser de forma natural. Temos sempre que provocar o jovem para que ele descubra que tem que resolver isso com ele mesmo. A questão da camisinha é básica e isso a maioria já sabe. É preciso juntar o prático com o cultural”, encerra.


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