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Malhação: Diretores de novelas apostam em gravações externas

Gravações externas levam mais realismo às tramas. Foto: Afonso Carlos/Carta Z Notícias/TV Press Gravações externas levam mais realismo às tramas

Transpor o dia a dia para a ficção das telenovelas é uma tarefa árdua. E, se personagens bem construídos e interpretados são fundamentais nesse sentido, o mesmo pode ser dito dos ambientes onde eles transitam. Tanto que, ao longo dos anos, os estúdios de gravações se tornaram cada vez mais completos, dispondo de cenários requintados e equipamentos de última geração. Mas nem sempre isso é suficiente. Para os diretores das novelas, gravar cenas em áreas externas é fundamental na condução das histórias e também para trazer mais frescor às tramas, por maiores que sejam os atrativos dos estúdios. Foi o que o diretor Marcos Schechtman procurou fazer em Araguaia, novela das seis da Globo que teve várias cenas realizadas em Goiás, próximo ao rio que dá nome ao folhetim. "Foi uma passagem muito bem sucedida. Conseguimos imprimir todos os elementos que o Araguaia carrega. Sem contar que lá encontramos a luz natural mais bonita do Brasil", empolgou-se.

O processo de gravação em externas, no entanto, costuma ser muito mais exaustivo do que o normal. Durante os cerca de 40 dias em que a equipe de Araguaia gravou no Centro-Oeste do Brasil, mais de 100 profissionais viajaram para a região levando cerca de 20 malas de figurinos e cinco toneladas de equipamento de engenharia, produção de arte e cenografia. Dificuldades semelhantes foram sentidas pela produção de Sansão e Dalila, série que estreia em janeiro na Record e vem sendo gravada em Natal, no Rio Grande do Norte. Mas, para o diretor João Camargo, um dos principais obstáculos foi lidar com o calor intenso da região, muito diferente do clima dos estúdios do Recnov, no Rio de Janeiro, onde as gravações acontecem paralelamente. "Tivemos perrengue todos os dias porque não estávamos acostumados ao clima. São lugares extremamente quentes e que exigem muito cuidado com os equipamentos. Mas foram dias maravilhosos porque conseguimos imagens poderosas", exaltou.

Mas nem sempre é preciso fazer viagens tão longas para gravar cenas fora dos estúdios. A maioria das externas das novelas da Globo e da Record costumam ser feitas no Rio de Janeiro, onde as emissoras concentram seus núcleos de dramaturgia, facilitando a locomoção de pessoas e o transporte de equipamentos. Agora, até mesmo produções que raramente saiam dos estúdios estão começando a experimentar as vantagens de gravar em outros espaços. É o caso da atual temporada de Malhação, em que o diretor Ricardo Waddington resolveu rodar parte das cenas em um subúrbio da Zona Oeste do Rio de Janeiro, próximo ao Projac. Tudo com o intuito de deixar mais realista a história, centrada nas diferenças sociais. "Fica muito mais real do que qualquer coisa que a gente possa construir. A ideia é deixar claro que o colégio está dentro de uma cidade grande brasileira, com todas as suas questões urbanas. Em novela isso é corriqueiro, mas não era em Malhação", explicou Ricardo.

Além de trazer mais realismo às cenas e fugir das limitações de um estúdio, as externas também podem ser fundamentais para o estilo de uma produção. E elementos como as luminárias de lojas, sinais de trânsito e outdoors das ruas de Copacabana são determinantes para a linguagem visual que o diretor Luiz Fernando Carvalho busca para a série Afinal, O Que As Mulheres Querem?, com estreia prevista para novembro na Globo. "Estamos trabalhando com a ideia de luz que dialoga um pouco com a cultura pop. Pela história se passar em Copacabana, tem um certo excesso de cores vindo das mais diversas fontes", contou.

Realidade "fake"
As gravações em externas costumam trazer muito mais realismo e reforço visual às cenas. Mas, por outro lado, não contam com o mesmo conforto oferecido pelas cidades cenográficas construídas para cada produção que entra no ar. Cada vez maiores e mais sofisticadas, as cidades demandam um trabalho intenso das equipes de cenografia, que se empenham em deixar os locais os mais verossímeis possíveis. Para criar a cidade cenográfica de Ribeirão do Tempo, a equipe de cenografia da Record levou aproximadamente seis meses entre pesquisa e construção, em um trabalho que envolveu um total de 150 pessoas. "O grande barato da cenografia é criar algo cada vez mais realista. A vantagem de construir uma cidade é misturar a paisagem com construções que abrigam estúdios, o que dá uma praticidade muito maior", explicou o diretor de cenografia Daniel Clabunde.

Já para reproduzir a região do Araguaia, a equipe da novela da Globo teve apenas 45 dias para fazer as frentes da cidade cenográfica e os cenários de estúdio. "Também viajamos para Goiás para conhecer a fundo a arquitetura, fauna e flora da região. Somando tudo, são mais de 21 mil m² de área implantada", explicou a diretora de cenografia Juliana Carneiro, que começou as pesquisas para a novela em março.

Instantâneas
# A ideia de explorar belas paisagens naturais nas novelas se popularizou em 1990 com Pantanal, exibida pela TV Manchete e dirigida por Jayme Monjardim.

# Em Sansão e Dalila, o diretor João Camargo explica que há a necessidade de muitas locações externas, já que Sansão era um andarilho. "Ele atravessou inúmeras cidades. Teremos cenários variados, além de uma cidade cenográfica. Mas acho que ganharemos em belezas externas", avaliou.

# Durante as gravações de Araguaia em Goiás, elenco e produção tiveram de encarar uma rotina intensa durante 40 dias, acordando às quatro da manhã e gravando até às cinco da tarde.

# Foram necessárias 10 horas percorrendo o rio Araguaia para que o diretor Marcos Schechtman e o gerente de produção da novela, Rodrigo Tapias, encontrassem a melhor locação para a história.



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